Gavetinha

Há pouco, enquanto esperava que a minha impressora imprimisse uns trabalhos, deu-me para voar no pensamento e memórias e resolvi abrir a gaveta que está por baixo da secretária.
É sempre assim....

Eu sei que só lá tenho fotos, postais e cartas da "minha vida anterior", mas o estar a remexer nestas coisas todas.....
Bem, até um charuto cubano tenho a morar nessa gaveta numa espera tremendamente empolgante para algum evento muito especial, porque na realidade não sou de fumar.
É engraçado como todos os sentimentos são relativizados com o desenrolar do tempo.... Na verdade, não tem realmente piada nenhuma! Pensar que somos sujeitos do "tudo é tudo tão relativo, tão transitório e tão sensível a mudanças".... mesmo aquilo que num determinado momento, representa tudo o que é mais importante que temos na vida e que nem sequer somos capazes de nos imaginar a viver de outra maneira....até isso!
Com o tempo a atenuar cicatrizes morosamente preguiçosas de se sarar, as prioridades alteram-se, os objectivos embarcam para novas paragens e por vezes o que outrora representava toda a nossa identidade, acaba por se esbater e diluir até acabar por morrer ou ficar asfixiado a uma memória, a uma recordação... E a vida anda para a frente! Faz-nos acordar de uma perspectiva sonhadora e indelével que afinal:

-não há nada nem ninguém insubstituível
-que é tudo uma questão de adaptação
-do momento
-de saber encarar os novos desafios
-de conseguir fechar ciclos
-de perceber que quando se dá tudo num determinado momento, é mais fácil avançar e recomeçar novos projectos, novos ciclos, novas ambições, novas pessoas...

Quando volto a fechar a minha gaveta cheia de memórias, só me resta pensar que foi tudo muito bom.... Sei que da próxima vez que abri-la estará um bocadito mais preenchida. Que não fazia nada diferente, que tudo o que agi faz de mim o meu bilhete de identidade que sou hoje, que tenho tantas memórias boas... e principalmente que tenho sorte!!
Por ter uma gaveta destas tão cheia de postais bonitos, assinaturas, sonhos, fotos, amigos, de vida... de TUDO! Principalmente de uma vida, em que tal como a de hoje, eu procurei viver intensamente, chamando a mim a responsabilidade pela minha satisfação e aproveitando todos os momentos, para disfrutar as oportunidades que me são dadas e valorizar aquelas que também soube lutar e que saí vencedor ou derrotado.

O que permanece também morador da minha gaveta, é o porta-chaves que comprei. Não me parece que seja tão cedo que abandone esta casa.

Mas o que tenho falta mesmo, é de um corpo estranho!

...kiding!