segunda-feira, julho 17, 2006

Cartas de Amor


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21-10-1935

3 comentários:

Anónimo disse...

Ora aí está um bom post, sim Sr., texto bem escolhido!
De facto as cartas d amor, lidas depois do amor ter passado ou lidas por "pessoas de fora" conseguem ser rídiculas...akilo vulgarmente chamado de lamechinhas. Mas kuando s ama, k importa ser lamechinhas e um tanto rídiculo, s isso nos faz sentir bem!?
O erro é mesmo n se escrever ou demonstrar os sentimentos k s tem por outrém...isso sim é k, por vezes, acaba mesmo por ser rídiculo.
Hoje em dia já nem s gasta papel e tinta pa escrever, já existem os e-mails, etc, por isso axo k todos os k realmente amam ou amaram alguem, já escreveram dessas cartas ridiculas.
Hehe...é giro ver uma Mota de alta cilindrada assim tão apaixonada...lol...será k consome mais combustível!?(piada esta mesmo ao lado)=P
Boa sorte aí para esse motor k t faz trabalhar, e k é esse teu enorme coração!
Abraços

p.s-tás com uma cara mt expressiva na foto =)

Luís Silva disse...

Álvaro de Campos... sensacional :)

Anónimo disse...

cartas de amor, quem as não tem? quem não as escreveu? quem não as leu? quem não um dia as perdeu?
...
As memórias nunca são ridículas...
Sinto saudades de escrever uma carta "ridícula", mas so se torna "ridícula" se for sentida...
Mas que bela escolha, o mais belo heterônimo de Fernando Pessoa. O mais viajado e poético de todos eles...
Fernando pessoa escreveu um poema, que fala do amor da minha perspectiva:

O Amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...