(...)porque hoje, acho um dia muito especial para colocá-lo! Embora tenha passado um ano, a mensagem tornou-se tão intemporal e tão influente, até na minha forma de avaliar este tema!
[para quem vai criticar "testamentos", nem percam o tempo a ler, mas acredito que vale a pena]
On 6/12/07 14:57, "Nuno Mota" wrote:
olá pedro
desculpa estar a importunar...eu fui há dias para lisboa, de modo a me ausentar do stress do trabalho, de confusões, em suma, descansar. claro que com o frio que faz em lisboa, fica-se logo com saudades da nossa terrinha, nossa ilha maravilhosa e AMENA! heeheheh.
seria para regressar à madeira somente no dia 11, no entanto e para infelicidade minha, tive que regressar três dias após a minha ida para lisboa, logo, regressei na terça. com um enorme aperto no coração. o irmão da minha melhor amiga, faleceu, teve um enfarte. 32anos!
agora o meu desabafo, pois estou revoltado um pouco com o "teu" Deus. Sei que pronto, viemos para a terra, e Ele concedeu-nos o livre arbítrio, não nos influenciar em nada. mas como é possível, pessoas de bem, serem-nos sequestradas desta forma de nós? sinto-me tão revoltado por isso. E pior, não sei que palavras aquecer a alma gelada da minha amiga... é complicado nutrir algum conforto nela, quando determinada pessoa não merecia ainda, ser resgatada desta forma do mundo terreno. como ajuda-la?como ampara-la? complicado né?
Já tiveste alguma situação assim? Vais achar estranho, mas eu não..e sinto-me "verdinho" neste capítulo.
As únicas pessoas que eu perdi, já não tinha contacto tão directo com elas, por isso o lidar com esta situação, deixa-me impotente mesmo.
Ainda por cima, temos que aguardar que o funeral seja no sábado, afim dos familiares regressarem de Jersey..tás a ver a impaciência disto tudo?
Mas resolvi escrever, pois houve passagens muito giras nalguns posts que fizeste acerca de DEUS... Vá lá.... bem hajas por isso..,
Um abraço
NunoMota
On 8/12/07 12:15, "Pedro" wrote:
Olá Nuno,
Em primeiro lugar obrigado pelo teu e-mail. Não me importunas e sinto-me lisonjeado que me tenhas escrito um e-mail num momento tão complicado.
Morte é sempre um tema difícil. E mais difícil ainda é confortar alguém cujo irmão morreu. Não creio que haja algo que possas fazer ou dizer para que a tua amiga se sinta melhor, pois a verdade é que a forma como ela se sente em relação a morte do seu irmão só depende dela e de mais ninguém. A chave para o sofrimento dela está dentro dela mesmo, e só ela a pode encontrar. Não podes decidir nem melhorar a forma como ela sente, mas podes decidir e melhorar a forma como tu te sentes em relação ao tema. Nesta situação tão delicada deves perguntar-te a ti próprio o que é que podes aprender e quem queres ser no meio disto tudo. Já decidiste que ias demonstrar-lhe a tua amizade, e por isso regressaste de Lisboa mais cedo do que estava previsto. O mais importante já o fizeste - demonstrar-lhe que ela é importante para ti e que pode encontrar em ti um ombro amigo. Agora falta-te descobrir o que podes aprender com tudo isto.
Aqui não se trata do meu Deus ou de qualquer outro Deus. A morte é uma fase da vida pela qual todos nós teremos que passar mais tarde ou mais cedo. A questão aqui é, qual é o teu entendimento desse momento? Para a maioria das pessoas a morte é um tema sensível capaz de despertar emoções muito fortes, especialmente pelo seu desconhecimento do que lhes espera depois desta vida. E esses sentimentos são fruto de uma noção errada do que é a morte. Para a maioria, a morte de um ente querido significa uma perda trágica, significa que não vão voltar a ver ou a estar da mesma maneira com essa pessoa. E no final do dia todo esse sentimento de perda e sofrimento baseia-se num sentimento puramente egocêntrico. As pessoas não ficam triste porque alguém morreu ou porque não sabem onde a pessoa que morreu foi parar. Ficam tristes porque alguém foi sequestrado das suas vidas. Ficam tristes porque sentem a falta da pessoa. É o tal sentimento que se baseia no Eu Eu Eu. E a razão porque sofrem tanto quando alguém morre é simplesmente porque não tem conhecimentos suficientes para entender o que é a morte. E todo esse sentimento provem do seu próprio ego que vive constantemente focado no mundo material.
Partindo do principio que nós não somos simples matéria, e de que somos mais que um corpo, a morte não significa o fim. Pelo contrário. Significa libertação, realização e o encerramento de uma etapa. A morte que conhecemos só existe para o nosso corpo físico. E para o espírito, o momento em que se liberta do corpo físico é o momento de maior alegria, de maior êxtase, e de maior prazer da sua vida terrena. É como se estivesse encerrado dentro de uma garrafa por muitos anos e finalmente chegasse o momento de ser livre. E neste contexto a morte é uma celebração. Por exemplo, se tu e a tua família estivessem todos encerrados numa prisão e chegasse o momento do teu pai terminar a sua etapa e voltar a ser livre, tu não ficarias triste. Pelo contrário. Ficarias imensamente satisfeito. E saberias que mais tarde ou mais cedo chegaria o dia de tu também terminares a tua pena e que terias uma eternidade para continuar a disfrutar da companhia do teu pai. E nesse momento avaliarias também a conduta dele enquanto esteve contigo na prisão e tentarias absorver o melhor da sua estadia e tentar não repetir os erros que ele possa ter feito - não entrar em desespero, ser paciente e positivo, não entrar em disputa com outros presos e tentar nutrir e criar as melhores relações possíveis durante a tua estadia. E no meio disto tudo se te dissessem que poderias receber visitas do teu pai se assim desejasses menos motivos terias para ficar triste. Obviamente isto é uma metáfora incompleta, pois deixa muitos outros aspectos de fora.
Nuno, não podes nem deves julgar ou condenar a etapa e percurso de outra alma, pois a verdade é que ignoras e desconheces o seu objectivo na terra e de quais são as repercussões disso para as pessoas ao seu redor, independentemente do tipo de morte e da idade da pessoa. A morte brusca de um ente querido e toda a dor que isso provoca, pode ser o momento de maior avanço espiritual para todos aqueles que estão a sua volta. A morte de um ente querido faz-te questionar muitíssimas coisa, incluindo a tua própria conduta e as tuas prioridades na vida. E neste sentido todo esse sofrimento que acompanha o momento da morte não é mais do que o romper da carapaça que encerra e limita o teu próprio entendimento.
A única coisa que te posso dizer é que cada um morre quando quer, por muito estranho ou ilógico que isto te possa parecer. Não é Deus que decide quando tu morres ou não. Quem decide és tu próprio! Apesar de haver uma grande probabilidade de não estares consciente disso. Somos seres feitos de três partes – corpo, mente, e espírito. E tu no teu dia a dia experimentaste como um ser tripartido. A maioria das pessoas consegue perfeitamente definir os desejos e pensamentos que provem do corpo, e os que provem da mente, e os que provem do espírito. Sabes perfeitamente que quando tens sede ou tens vontade de ter sexo, que isso são desejos do teu corpo. E sabes perfeitamente que quando tens uma dúvida e consideras milhares de soluções para o problema, que isso provem da tua mente. E sabes perfeitamente que aquela vozinha no fundo do teu coração que sabe sempre o está certo, aquela voz da consciência tão nossa amiga que nos faz sentir mal sempre que não a seguimos, provem do teu espírito. E como somos seres feitos de três parte, e cada parte é independente, muitas vezes o que o corpo e a mente querem, não é o que o espírito quer. E por isso vivemos em conflito interno constante. Obviamente no momento em que as três partes pensam e actuam na mesma direcção, nesse momento sentes-te super feliz. Por isso é que quando estás apaixonado e tens relações com alguém que amas, sabe tão bem e te sentes tão bem - porque as três partes querem a mesma coisa. E o mesmo se aplica a todas as áreas da nossa vida. Mas chega um momento em que o espírito terminou o que veio aprender ou fazer. E nesse momento o espírito deseja libertar-se do corpo e da mente. E obviamente o corpo e a mente vão fazer o possível para continuarem em funcionamento. Mas obviamente no meio disto tudo quem manda é o espírito que acaba por libertar-se. A maioria das pessoas vive focada nos desejos do corpo e da mente, e muito raramente presta atenção ao espírito. Mas quanto mais atenção dás ao teu espírito e quanto mais o escutas, mais compreendes o teu papel e o teu verdadeiro Eu. E chegas a um ponto em que o teu corpo e mente vivem em função do teu espírito, e não ao contrário. Nesse momento já estás mais apto a perceber quando chega o momento de abandonares o teu corpo físico. E por isso é que há muitas pessoas que quando estão as portas da morte se encontram tão serenas e descansadas.
Bem, isto já está muito longo. Não creio que te tenha dito nada que não estejas farto de saber. Mas celebra esse momento que chamamos de morte, não o condenes.
Abraço, Pedro
Obrigado Pedro por permitires expor o teu ponto de vista. Realmente há pessoas assim, não são somente um indivíduo à face da Terra. Fazes diferença!
Sim, este Pedro existe!!!!