sexta-feira, outubro 03, 2008

Ser trintao, tem História!

ARTIGO DE NUNO MARKL P/ OS TRINTÕES


A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida.
E está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os trinta.
O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando lhe falei no Tom Sawyer.
'Quem?', perguntou ele. Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu Deus... Como é que ele consegue viver com ele mesmo?
A própria música: 'Tu que andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui e além...' era para ele como o hino senegalês cantado em mandarim.
Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não conhece outros ícones da juventude de outrora.
O D'Artacão, esse herói canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Sebastien et le Soleil, combatendo os terríveis Olmecs; Galáctica, que acalentava os sonhos dos jovens, com as suas naves triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que dava curvas a noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super Mulher, heroína que nos prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas, lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical, não é a mesma coisa. Naquela altura era actual...
E para acabar a lista, a mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração: O Verão Azul.
Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, meu Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada.
Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não passaram, o que os torna fracos:Ele nunca subiu a uma árvore!
E pior, nunca caiu de uma. É um mole.
Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser duplo de cinema.
Ele não se transformava num super-herói quando brincava com os amigos.
Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos nas obras e que depois personalizávamos.
Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra.
Ele nunca roubou chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma canção.
Confesso, senti-me velho...
Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador.
Tudo bem, por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, em que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft.
Óbvio, nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros.
Hoje, se um miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e fazer exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa fazer tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído.
Doenças com nomes tipo 'Moleculum infanticus', que não existiam antigamente.
No meu tempo, se um gajo dava um malho muitas vezes chamado de 'terno' nem via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra espalhada por cima não estancasse.
Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas, porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos.
Um gajo na altura aprendia a viver com o perigo.
Havia uma hipótese real de se entrar na droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para a praia.
E sabíamos viver com isso. Não estamos cá? Não somos até a geração que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade?
E ainda nos chamavam geração 'rasca'... Nós éramos mais a geração 'à rasca', isso sim. Sempre à rasca de dinheiro,sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na universidade, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o carro. Agora não falta nada aos putos.
Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se juntar e para servir de presente de anos e Natal, tudo junto.
Hoje, ele é Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo.
Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela versão da bicicleta.
Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu que 8 em cada dez putos sejam cromos.
Antes, só havia um cromo por turma. Era o totó de óculos, que levava porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas.
É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma empresa de computadores, mas não curtiu nada.'

(Nota: ...os chocolates não eram gamados no 'Pingo Doce'... Ainda se chamava 'Pão de Açúcar'!!!)

7 comentários:

Nuno Vrrruummmm disse...

isto não é para ninguém enfiar barretes, ou amuar, porque sou mais isto que aquilo. é uma realidade. chama-se a evolução, mai nada!

Rute disse...

É verdade os putos de hoje não tem amigos, tem computadores. Não são nada desenrascados. Eu só tenho 23 anos mas vejo tanta diferença em miudos de 16,17,18....

Mas por vezes pergunto-me, falamos tão mal deles. E a culpa não será também dos pais? Dos jovems que antigamente rebolavam na terra e ficavam a jogar a bola até a noite?

Eu tenho sobrinhos e vejo os meus irmãos a sobrecarregarem-nos com actividades, e mais actividades. Eles pouco ou nenhum tempo livre tem. Tenho um caso em que o meu sobrinho é um matulão de 1,75 m de 15 anos e os pais não o deixam apanhar a camioneta para ir ao cinema com os amigos.

Pais esses que se conheceram na buate (como antigamente se chamava) por volta dos seus 20 anos. E que até aos 18 andavam a jogar ao guelas na rua, a andar de rojo na terra com os joelhos no chão. A cairem de bicicleta e partirem vidros para depois fugir. Andavam à batatada a seguir abraçavam-se e iam tomar um fino à escondidas dos pais.

São esses pais que dizem não! Ás crianças terem alguma liberdade.
Mas casos não são casos.

Há miudos parvos e "fashionprisioners" tipo cópias dos actores dos morangos. Que aos 13 anos se vestem como os da minha geração de 20 e 20 e tais!!! Que discutem sexo drogas e alcool, como qualquer pessoa adulta.

E de quem é a culpa?

P.S. - Este é para matar as saudades!!! Aqui há de tudo!!! =D http://www.misteriojuvenil.com/

Nuno Vrrruummmm disse...

sim ruteeeee, a culpa não pode ser só de uma parte. Mas quando falava dos trintões, era dos "meus" trintões. Não sou trintão-quase-quarentão. Daí que essa estatística dos jovens de 20's, ainda não são fruto da minha geração, mas da anterior(dos tais quase quarentoes, pois para ter um filho de 20's, andei a brincar com a pilinha muuuito cedo, ahahaha). E se os pais são assim, são por causa da tal "evolução" e da "correria" do dia a dia. Tentão enlatar os filhos com o máximo de actividades possiveis, para ocupar o tempo deles, enqto os pais trabalhaam que nem mouros!

Claro que a culpa não é só dos vintes... Lendo bem a crónica, ele culpabiliza, toda a era, não as pessoas de 20's. Eles são os que se manifestam com o que se lhes oferece...

é o que aparece nos media, o que o proprio consumo oferece. Também se houvesse playstation na minha altura, deveria agir da mesma forma que hoje em dia, não sei...

mas que recordando os meus tempos de infância, e (con)vivendo com os de hoje em dia, vai por mim...era tudo mais humano e menos "mecanizado"(leia-se informaticamente falando), na minha altura...

bjos e obrigado pela opiniaoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo :)

Sam disse...

Este Markl... É UM SENHOR! E a parte grave disto, é tudo verdade!!!

Nuno Vrrruummmm disse...

kóror! erro crasso na minha ortografia tentão = tentammmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm!!!!

querééédo nuno motsssaaa!

Sof disse...

É tudo verdade sim sinhor. Orgulho-me da infância/educação que tive apesar de ás vezes pensar que se fosse um pouco mais mal-educada e deslargada das pessoas não me fazia muito male... Mas é só por momentos felizmente!

Miss those times.

Miss my friends.

Miss you PERIOD

(lá me redimi ao inglês)

E tira-me esta música rabetsa dsaqui Nuno Motsaaaaa!

Sof disse...

Ah! E na minha altura (há uns 2 ou 3 anos — MUAHAHAHA) já fui senhora dum Gameboy, dum Spectrum não sei quê e duma MegaDrive, mas não foi por aí que zesgracei a minha "carreira"! Hajam pais como deve ser!

"Inventem-se novos pais"

(Já rezava o título do livro de Daniel Sampaio)